Na mira da privatização, Eletrobras, Correios e Caixa deram lucro de R$ 21 bilhões em 2020
Ao contrário do que diz o senso comum, balanços das empresas públicas desmentem principal argumento utilizado em favor da privatização
Arquivo/Agência Brasil

Capital está interessado em se apropriar dos lucros do setor público, alerta André Roncáglia (Unifesp)
Fonte: Rede Brasil Atual (São Paulo) – O pressuposto básico daqueles que defendem a privatização é que as estatais seriam ineficientes, causando prejuízo aos cofres públicos. Em última instância, esses custos seriam repassados para o bolso do contribuinte. Mas um olhar atento sobre os balanços apresentados por empresas públicas como a Eletrobras, os Correios e a Caixa Econômica Federal (CEF), desmentem esse argumento. As três empresas, que estão na mira do governo Bolsonaro, registraram lucros que somam R$ 21 bilhões somente no ano passado.
A bola da vez é a Eletrobras. A Medida Provisória (MP) 1.031/2021, que amplia a participação do capital privado na estatal do sistema elétrico, foi aprovada na Câmara dos Deputados, no mês passado. Atualmente no Senado, a MP publicada em em 23 de fevereiro tem prazo de 60 dias (prorrogável por igual período) para ser votada, antes de perder a validade. A partir do 45º dia, toda MP passa a trancar a pauta de votações da Casa Legislativa onde está tramitando.
A estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia tem capacidade instalada de 42.080 megawatts e 164 usinas, sendo 48 hidrelétricas, duas termonucleares e dezenas de outras fontes, como gás natural, eólicas ou a carvão e óleo. Tem também mais de 58 mil quilômetros de linhas de transmissão, o que corresponde a 57% do total nacional.
De acordo com balanço financeiro divulgado em março, a Eletrobras registrou lucro de R$ 6,387 bilhões em 2020. A própria direção da estatal afirma que esse resultado demonstra “a robustez e a liquidez da companhia mesmo em um ano marcado pela pandemia de covid-19”. No ano anterior, os resultados foram ainda maiores, totalizando R$ 11,133 bilhões.
Correios
Ocupando o segundo lugar na fila das privatizações, os Correios tiveram lucro líquido de R$ 1,53 bilhão em 2020. Os números, que não foram divulgados oficialmente, constam de uma comunicação enviada pelo presidente da estatal, Floriano Peixoto Vieira Neto, ao Ministério da Economia. As receitas com encomendas, por exemplo, tiveram crescimento de 9% em relação ao ano anterior, por conta do aumento do comércio eletrônico em decorrência da pandemia. Desde 2017, a empresa fecha no azul.
Apesar dessa trajetória de alta – ou justamente em função disso –, o governo Bolsonaro apresentou, em fevereiro, o Projeto de Lei (PL) 591/2021, que inclui a empresa pública mais antiga do Brasil, fundada há 358 anos, no Programa Nacional de Desestatização. Os Correios estão presentes nos 5.570 municípios, entregando em média, 15,2 milhões de objetos postais por dia, serviço realizado por cerca de 100 mil trabalhadores.
Além da sua capilaridade, a estatal oferece sempre as menores tarifas, quando comparado com os valores cobrados pelas empresas privadas de logística. Por outro lado, de acordo com auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o Índice de Entrega no Prazo (IEP) subiu de 87%, em 2015, para 97% em 2019.
Caixa
Outro alvo da sanha privatista, a Caixa Econômica Federal (CEF) registrou lucro líquido de R$ 13,17 bilhões em 2020. Só no ano passado, o banco público pagou auxílio emergencial no total de R$ 293,1 bilhões para 67,9 milhões de pessoas. Também foi responsável pela liberação de R$ 36,5 bilhões do Saque Emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), valor pago a 51,1 milhões de pessoas. Além disso, a Caixa detém a liderança do mercado habitacional com 68,8% de participação no financiamento da casa própria.
Dado o seu papel estratégico, e a inviabilidade política de propor a privatização na íntegra, o governo Bolsonaro tem adotado a estratégia de fazer a venda fatiada da Caixa. Essa estratégia foi tentada no ano passado, com a publicação da MP 995/2020. Contudo, graças à mobilização dos trabalhadores, essa medida acabou caducando. Ainda assim, a direção do banco conseguiu manobrar para realizar a abertura de capitais da Caixa Seguridade, concluída no mês passado.
Motivos e riscos
Se essas empresas públicas estão dando lucro, quais seriam então os reais motivos para a privatização? “De maneira muito simples, eles querem que esses lucros sejam apropriados pelo setor privado”, afirma o economista André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Além disso, há a “crença” de que essa lucratividade pode ser ainda maior nas mãos da iniciativa privada.
“Em tese, o setor privado seria um melhor gestor. Teria mais visão de mercado e maior flexibilidade. O que traria lucros ainda maiores. Na visão deles, isso seria gerar riquezas pra toda a sociedade. Porque eles confundem sociedade com os acionistas das empresas, o que é uma metonímia (a parte pelo todo) bastante simbólica dessa visão de sociedade.”
Para Roncaglia, a privatização “é sempre uma promessa”. Contudo, alguns dados da realidade contrariam esse desejo. Ele cita, por exemplo, o próprio sistema elétrico, que foi parcialmente privatizado (em especial, as antigas empresas estaduais de distribuição de energia). Ainda assim, o Brasil detêm hoje a segunda maior tarifa de energia do mundo. “De maneira bem clara, não consigo dizer que o setor privado vai ser mais produtivo e oferecer melhores serviços. Não tem absolutamente nada que garanta isso”.
Outro complicador, segundo ele, é a questão da regulação. A privatização de serviços públicos exige a existência de agências reguladoras atuantes. Contudo, devido à dimensão bilionária desses negócios, é sempre latente o risco dos reguladores serem “capturados” pelos interesses privados. No final, quem vai pagar essa conta é o cidadão.
Em julgamento no STF, negociação antes de demissão coletiva é ato de cidadania
Por enquanto, três ministros dispensam e dois defendem negociação prévia. Procurador fala em “diálogo social”
Divulgação

Caso tem origem em 2009, quando a Embraer demitiu 4.200 de 18 mil funcionários10
São Paulo – Pedido de vista do ministro Dias Toffoli, no último dia 20, interrompeu o julgamento de ação que discute a necessidade de negociação coletiva antes de demissões coletivas. Por enquanto, três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) entendem que a negociação prévia à demissão em massa não é necessária, enquanto dois sustentam que sim. O caso tem origem em 2009, quando a Embraer demitiu 4.200 de 18 mil funcionários.
“A criação dessa exigência (negociação prévia), para buscar alternativas de menor impacto social, representou um autêntico avanço civilizatório”, afirma o advogado Aristeu César Pinto Neto, do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, no interior paulista. Para ele, do diálogo podem surgir alternativas que evitem demissões. Como suspensão dos contratos ou programas de voluntariado, “com pacote de benefícios que permitem enfrentar a situação do desemprego com mais recursos”.
Diálogo social
No julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 999.435, Embraer e Eleb Equipamentos questionam uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que determinou a necessidade de negociação antes de demissão em massa, em casos futuros. Para a defesa da fabricante de aviões, demissão é um ato unilateral do empregador e independe de concordância do funcionário ou do sindicato.
Mas ninguém está falando em “autorização” para demitir, reage o titular da Coordenadoria Nacional de Promoção da Liberdade Sindical (Conalis) do Ministério Público do Trabalho (MPT), Ronaldo Lima dos Santos. “Negociação coletiva é um ingrediente do diálogo social”, afirma. Segundo o procurador e professor, 81% dos países-membros da Organização Internacional do Trabalho (OIT) têm algum tipo de regulamentação sobre o assunto.
Proteção ao trabalhador
Durante o julgamento, o procurador-geral da República, Augusto Aras, citou a Convenção 158 da OIT, que trata do assunto. “A norma internacional é protetiva do trabalhador”, afirmou. Se o Estado não pode impedir empresas de demitir, essas também devem procurar o sindicato para uma negociação prévia que diminua os impactos da decisão.
O relator do RE, que tem repercussão geral, ministro Marco Aurélio Mello, apontou “desnecessidade” de negociação coletiva no caso de demissão em massa. Foi acompanhado por Alexandre de Moraes e Nunes Marques. Mas Edson Fachin abriu divergência, seguido de Luís Roberto Barroso, único a votar na sessão dia 20. Ele observou que o TST não exigiu acordo ou autorização, mas apenas que os representantes dos trabalhadores sejam ouvidos e possam apresentar alternativas aos cortes.
Tema coletivo exige negociação
“A discussão não vai terminar com a decisão do STF”, aponta Ronaldo Santos, do MPT. “Teremos que traçar outra estratégia para fazer com que esse diálogo social prévio seja exigido”, acrescentou o procurador, que na quinta-feira (27) participou de debate organizado pelo escritório Crivelli de advocacia. Além de Santos, a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva. “Ainda que o Supremo decida – e é isso que nós esperamos de uma instituição que é guardiã da Constituição – pela admissibilidade da negociação prévia, muitas questões advirão”, lembra o procurador.
A discussão seguinte, observa, será como aplicar a regra, e em quais situações. “Questões coletivas devem ser dialogadas com as representações dos trabalhadores. Isso é muito claro. Qual o grau de democracia que o legislador previu para este país?”, questiona. “(Democracia) tem de ser participativa.”
Livre, mas nem tanto
Ele cita o caso recente da Ford, que decidiu encerrar atividades no Brasil, fechando as unidades de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Novo Horizonte (CE). “Quando a Ford foi se instalar em Camaçari, recebeu subsídios. Houve, inclusive conflito, entre Rio Grande do Sul e Bahia. Quase todas as empresas se utilizam de subsídios governamentais, que são nossos.” Dessa forma, critica o procurador, para sair de determinado lugar a empresa quer liberdade total, mas na hora se instalar “não é tão livre”. Ou seja, quer receber benefícios do Estado. Isso exige contrapartida.
Para Ivone Silva, a informação é um instrumento importante nas negociações. “Várias vezes pegamos os bancos na mentira através de seus balanços”, observa. Houve também casos em que o banco “espalhava” suas demissões em tentativa de não configurar uma dispensa coletiva.
Quem faz as leis
Outro problema, aponta Ivone, está na representação no parlamento, onde são feitas as leis. “Os trabalhadores perderam uma bancada enorme na Câmara e no Senado. Fomos perdendo espaço”, diz. Com cada vez mais empresários no Congresso, multiplicaram-se reformas e leis com “premissa liberal”, lembra a dirigente. No sentido de um Estado até aquém do mínimo, sempre com o objetivo de reduzir ou “flexibilizar” direitos.
Acontece ainda o que Ivone chama de “mudança drástica” no perfil do trabalhador. “A maioria está indo para plataformas. Não é mais o cara registrado, é o PJ. Não é mais relação trabalhista, é de empreendedor. Falta essa discussão da coletividade. A gente tem de regulamentar minimamente.”
Reforma administrativa ataca serviços públicos e atendimento aos mais pobres
Proposta do governo que tramita na Câmara se sustenta em suposto ‘excesso’ de funcionários públicos, o que não é verdade, afirma deputado Alencar Santana
Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Alencar Santana: reforma “é mais uma tentativa do governo Bolsonaro de destruir as políticas públicas do país”20
São Paulo – A reforma administrativa que tramita na Câmara dos Deputados, se aprovada, vai comprometer os serviços públicos e o atendimento aos mais pobres e humildes que precisam desses serviços. Essa é a opinião do deputado federal Alencar Santana (PT-SP) que tem atuado contra esse projeto que faz parte da agenda neoliberal do governo Bolsonaro.
Na terça-feira (25), a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou a admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição 32/20, enviada pelo governo, conhecida como PEC da reforma administrativa. Uma comissão especial será responsável pela análise da matéria.
“É mais um ataque ao Estado brasileiro, aos servidores e ao povo. Essa reforma enfraquece muito o poder público, que tem a finalidade é atender o povo e prestar um serviço. E compromete os serviços que atendem as pessoas mais pobres e mais humildes que demandam esses serviços”, afirma o deputado.
Em entrevista à revista Brasil TVT deste domingo (30), Alencar disse que a reforma “é mais uma tentativa do governo Bolsonaro de destruir as políticas públicas do país”.
Muitos servidores?
A reforma parte do pressuposto de uma visão equivocada, que acredita que exista um excesso de funcionários públicos no país. “As pessoas acham que tem muitos servidores públicos e que as coisas não funcionam, e não é bem assim. Quando um serviço não funciona, a culpa não é do servidor, mas do comando político daquele serviço”, disse o deputado.
Alencar lembra que durante a crise sanitária quem salvou muitas vidas foram os servidores públicos, da área da saúde especialmente. E esses servidores atendem o povo mais pobre.
“Será que de fato temos muitos servidores no país? Será que o serviço público não funciona?”, indaga o deputado.
“É uma covardia o que está sendo feito. Votar uma reforma desse tamanho que altera a Constituição dessa maneira, em plena pandemia, é uma traição e um ataque covarde justamente a esses servidores que estão trabalhando e se colocando em risco pessoal e também a própria família. Esses servidores não podem se organizar contra a reforma porque justamente eles estão trabalhando para atender as pessoas”, defendeu.
INSS volta a bloquear benefícios por falta de prova de vida a partir de 1º de junho
Cortes nos benefícios por falta de prova de vida começam pela competência do mês de maio, para os residentes no Brasil
Marcello Casal Jr / ABr

Parte dos beneficiários poderão fazer a prova de vida de forma virtual – Marcello Casal Jr
Brasil de Fato – A partir de 1º de junho deste ano, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) retoma o bloqueio de benefícios de aposentados e pensionistas por falta de prova de vida. O procedimento estava suspenso desde março do ano passado, devido à pandemia de covid-19.
A medida foi publicada na Portaria 1.299, do último dia 13 de maio, apesar do contexto acentuado de pandemia de coronavírus no Brasil.
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De acordo com o Instituto, cerca de 11 milhões de pessoas precisam de comprovação de vida para continuarem cadastradas. Em caso de bloqueio do pagamento, suspensão ou cessação, a regularização deve ser feita na agência bancária em que é feito o pagamento do benefício ou em agência no INSS.
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Prova virtual
A comprovação de vida é feita anualmente e alguns beneficiários podem fazer o procedimento pela biometria facial, ou seja, de forma virtual. Assim, 5,3 milhões de beneficiários participantes do projeto poderão realizar o benefício sem sair de casa, por meio do aplicativo “Meu gov.br”.
Os beneficiários que farão parte do projeto irão receber uma mensagem de texto no celular ou um e-mail com as orientações. Os convocados devem ter biometria cadastrada na Justiça Eleitoral ou no Departamento de Trânsito (Detran), além de um celular com câmera fotográfica.
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Calendário de bloqueios
O INSS apresentou uma tabela com as colunas de competência de “vencimento da comprovação de vida” e da “retomada da rotina”. Aqueles que não fizeram a comprovação mesmo antes de março de 2020 devem ser os primeiros a realizar o procedimento.
O INSS organizou o procedimento da seguinte maneira: os beneficiários cuja prova de vida venceu entre março e abril de 2020 devem realizar a comprovação em junho de 2021. O grupo que tinha limite entre maio e junho do ano passado deve fazer em julho deste ano. Quem estava registrado com vencimento em julho e agosto de 2020 deve fazer a prova até agosto de 2021. Setembro e outubro de 2020: setembro de 2021. Novembro e dezembro de 2020: outubro de 2021. Janeiro e fevereiro de 2021: novembro de 2021. E, por fim, março e abril de 2021: em dezembro de 2021.
Universidades federais não têm mais de onde cortar despesas, diz reitor
Situação financeira das 69 universidades está no limite. Mesmo que não fechem as portas, podem suspender serviços essenciaisPor Cida de Oliveira, da RBA
Publicado 18/05/2021 – 20h41Divulgação: Adufla/Andes

Os cortes na educação tornaram-se ainda mais drásticos com o governo de Jair Bolsonaro
Por Rede Brasil Atual (São Paulo) – As 69 universidades federais brasileiras estão no limite e não têm mais de onde cortar despesas sem que coloquem em risco o seu funcionamento. Com cada vez menos recursos, em muitas unidades já foram cortadas bolsas, a limpeza e a manutenção da infraestrutura. Não há mais como fazer melhorias, como obras de acessibilidade.
A segurança também foi afetada, o que põe em risco o patrimônio público e as pessoas. Há ainda dificuldades para investir na modernização de equipamentos e redes de computadores. E se permanecer a grave situação financeira, poderá faltar dinheiro até para fornecedores de serviços essenciais, como energia elétrica. Mesmo que não fechem as portas literalmente, mal poderão manter ensino e pesquisa – o que é quase a mesma coisa.
“Além do corte de R$ 1 bilhão no orçamento deste ano, 18% a menos que em 2020, um orçamento já insuficiente, temos ainda R$ 700 milhões contingenciados. Precisamos que o ministro Paulo Guedes libere o montante”, disse à RBA Edward Madureira, reitor da Universidade Federal de Goiás(UFG) e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
Defesa das universidades federais
“O governo está firme no propósito de desfazer, de desconstruir. E as palavras não são minhas, mas do presidente da República, ditas em Washington em março de 2019. Ali ele deu a entender que estaria muito feliz em desconstruir e desfazer”, disse o professor da Universidade Federal de Goiás Nelson Cardoso Amaral, em ato virtual em defesa das universidades públicas nesta terça-feira (18) promovido pela reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
De acordo com ele, o objetivo do presidente Jair Bolsonaro é desfazer tudo o que foi realizado a partir de 1988, com a Constituição. “Tudo que foi feito nesse tempo tem a ver com o marxismo cultural (combatido pelo governo e seus apoiadores), por isso esse processo de desfazimento”.
O professor exibiu dados e gráficos que mostram a grave situação das universidades federais. “A gente percebe que de 2019 para 2021 há uma queda dos salários devido a inflação e o congelamento dos salários no período, que teve impeachment, prisão do presidente Lula, toda a ação da lava jato, a Emenda Constitucional 95, a reforma da previdência, trabalhista, enfim. Um período muito importante, que deve ser analisado com cuidado.”

No gráfico a seguir, os dados mostram uma redução nos repasses do Ministério da Educação (MEC) para as despesas correntes das universidades federais. Ou seja, pagamento da manutenção da universidade: água, luz, telefone, internet, trabalhadores terceirizados, manutenção de equipamentos, material de consumo. “É uma queda muito grande. São R$ 3,5 bi a menos e a situação de 2021 é drástica. Será difícil chegar até o final do ano”, disse Cardoso Amaral.

Com mesma verba de 2004 e o dobro de alunos, universidades federais podem parar em julho
Outro gráfico que mostra a queda de recursos do MEC para investimentos, como em equipamentos e laboratórios mais modernos, por exemplo, tão importantes para a pesquisa de ponta.

“Se a gente somar o total das despesas correntes, dos investimentos, e dividir pela quantidade de alunos, se tem a noção desse decréscimo violento de 2013 para cá. Um patamar abaixo de 2005. É drástica a situação e é certo que deteriorará as instituições universitárias”, destacou.

O professor trouxe ainda um gráfico sobre o crescimento no número de alunos a partir de 2006, com a expansão da rede federal no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os dados referentes aos anos de 2019 e os dois anos seguintes são repetidos, já que não houve divulgação do censo da educação superior. “Espero que esses números todos, que pertencem ao Inep, continuem existindo. O negacionismo faz com que essa gente não goste de estatísticas. Por isso nenhum esforço para a realização do censo.”
E destacou que há atualmente 18% de jovens de 18 a 25 anos no ensino superior. O Plano Nacional de Educação estabelece percentual de 33% em 2024. “Isso mostra que há muito ainda que se expandir, o que não será possível. A EC 95 congela os investimentos do poder executivo federal”, lembrou.

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Juristas querem responsabilização do governo do Rio por chacina do Jacarezinho
Associação Brasileira de Juristas pela Democracia aderiu à notícia-crime protocolada junto ao STJ pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos
Por Redação RBA (São Paulo) – O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, deve ser responsabilizado pela chacina do Jacarezinho que matou 29 pessoas no dia 6 de maio. Assim se manifesta a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), ao aderir à notícia-crime protocolada em 10 de maio pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) junto ao Superior Tribunal Justiça (STJ). As entidades pedem, além da responsabilização do governo pela chacina, que responda por crime de desobediência previsto no artigo 330 do Código Penal. Isso porque o governo do Rio descumpriu decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que restringiu operações policiais no estado durante a pandemia do novo coronavírus.
Segundo o MNDH, o Rio de Janeiro convive com “flagrante descumprimento” dessa decisão judicial em caráter liminar proferida pelo Supremo junto em resposta a uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 635). Essa ADPF questionou a alta letalidade das forças policiais do Rio e a violação sistemática dos direitos humanos de moradores de favelas do estado pelo governador e pelas forças policiais sob seu comando.
“Os resultados de operações lideradas como essa só evidenciam como políticas de guerra não resolvem a violência urbana no Brasil; em vez disso, reforçam o processo de estigmatização das periferias e corroboram com o extermínio da juventude negra”, afirma o MNDH na notícia-crime. “Apesar disso, medidas voltadas à equidade social e à prevenção da criminalidade são pouco difundidas e incentivadas no país. Políticas de segurança devem ser pautadas para preservar vidas, mas o que ocorre parece ser o oposto.”

Derramamento de sangue
A entidade salienta, ainda, que há uma profunda falta de transparência dos responsáveis pela operação comandada por Cláudio Castro, que teria sido executada para investigar denúncias sobre aliciamento de crianças e adolescentes. “Contudo, até agora não se sabe que crianças são essas, se elas foram resgatadas, ou que tipo de acompanhamento será garantido às mesmas. O que se tem em concreto são 29 (vinte e nove) mortos e outras pessoas feridas”, aponta.
O governador Cláudio Castro, reforça a notícia-crime, deve ser responsabilizado ainda por não ter paralisado essa operação quando já se noticiava na imprensa o derramamento de sangue e o número absurdo de vítimas. “Isso denota a flagrante deliberação dolosa do noticiado de seguir com sua empreitada violadora em afronta à decisão do Supremo Tribunal Federal.”
A notícia-crime denuncia que a Polícia Civil, comandada pelo governador, agiu como um grupo de extermínio, e não como órgão de segurança pública. “A violência policial nas comunidades não é uma forma eficaz de enfrentamento ao crime organizado e não resulta na redução da criminalidade. O que foi realizado foi uma operação comandada por Cláudio Castro, sob o signo da desobediência, crime tipificado no Código Penal brasileiro, absolutamente desastrosa, com danos infinitamente mais graves do que os crimes que ela pretendia combater.”
Além da ABJD, aderiram à notícia-crime do MNDH pela responsabilização do governo do Rio de Janeiro na chacina do Jacarezinho, a Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários (Unisol Brasil), o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), a Frente Ampla Democrática pelos Direitos Humanos (FADDH) e a Revista Brasileira de Direito Civil (RBdC).
Chacina do Jacarezinho
A chacina do Jacarezinho, comunidade na zona norte do Rio de Janeiro, matou 29 pessoas e deixou cinco feridos. Trata-se da maior ação oficial comandada pela polícia em número de mortos na história do Rio de Janeiro, de acordo com levantamento feito pelo Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (UFF), que tem base de dados sobre o tema desde 1989.
“É de rigor enfatizar que todo esse episódio contradiz tudo o que se preza, dentro de um Estado Democrático de Direito, como legítimo em uma política de segurança pública, uma vez que é inconstitucional e desumano um Estado em que uma quantidade significativa de mortes violentas decorrem de intervenção policial”, define a notícia-crime que pede a responsabilização do governo do Rio na chacina do Jacarezinho.
Deputados aprovam projeto que proíbe despejos e desocupações este ano
Diante da crise econômica agravada pela pandemia do novo coronavírus, Câmara votou pela proibição de despejos e remoções até 31 de dezembro; PL ainda será apreciado pelo SenadoPor Redação RBA
Rovena Rosa/EBC

“Vitória da luta dos trabalhadores brasileiros e dos movimentos de luta por moradia”, comemorou a deputada petista Natália Bonavides , uma das autoras do projeto de lei
São Paulo – Por 263 votos a favor e 181 contra, a Câmara dos Deputados aprovou na tarde desta terça-feira (18) projeto de lei que proíbe despejos e desocupações até 31 de dezembro. A proposta, que seguirá agora para votação no Senado, pretende garantir moradia às famílias atingidas pela crise econômica agravada pela pandemia no novo coronavírus.
Perda de renda na pandemia causa aumento de despejos, ocupações e remoções
O PL 827/20 abrange imóveis públicos e particulares, urbanos e rurais. E suspende remoções autorizadas desde 20 de março do ano passado, quando o estado de calamidade foi decretado.
No caso de ocupações, a regra vale para as ocorridas antes de 31 de março de 2021. Mas não alcança ações de desocupação já concluídas na data da publicação da futura lei, informa a Agência Câmara de Notícias.
A deputada Natália Bonavides (PT-RN), uma das autoras do texto, comemorou a aprovação do PL como uma questão humanitária. “Vitória da luta das trabalhadoras e trabalhadores brasileiros e dos movimentos de luta por moradia. Agora, vamos aumentar ainda mais a mobilização para garantir a aprovação no Senado”, afirmou em sua conta no Twitter.
Ficar em casa
“Nós estamos num momento em que associações científicas, associações de saúde, os decretos dos governadores dos estados tentam fazer com que as pessoas fiquem o máximo possível em casa. Que casa? As pessoas estão rolando de um despejo para um barraco, de um barraco para debaixo do viaduto. Porque, em todo o processo de articulação desse projeto de lei, eu conheci histórias assim, de famílias que estão sendo ameaçadas pela terceira vez de serem despejadas”, relatou a deputada petista.
Além dela, também assinam o PL os deputados André Janones (Avante-MG) e Professora Rosa Neide (PT-MT). O relator da proposta, deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP), afirmou ser muito importante definir claramente que essa é uma lei transitória, da mesma maneira que foi a 14.010 (que também versa sobre despejo), de 2020. “Uma lei que vigorou e vigeu durante um curto período de tempo. Essa existe da mesma maneira. Ela não é uma lei que vai mudar as relações definitivamente”, disse. “O projeto evita o despejo em um momento de pandemia, mas também preserva os locadores que possuem apenas um imóvel alugado.”
Entenda o projeto que proíbe despejos
As medidas como ordens de despejo não poderão ser efetivadas até 31 de dezembro de 2021. Nem mesmo medidas preparatórias ou negociações poderão ser realizadas. Somente após o fim do ano o Judiciário deverá realizar audiência de mediação entre as partes, com a participação do Ministério Público e da Defensoria Pública, nos processos de despejo, remoção forçada e reintegração de posse.
Quanto aos imóveis urbanos alugados, o PL também proíbe concessão de liminar de desocupação este ano. Isso valerá, caso aprovado pelo Senado, para situações de inquilinos com atraso de aluguel, fim do prazo de desocupação pactuado, demissão do locatário em contrato vinculado ao emprego ou permanência de sublocatário no imóvel.
O locatário, no entanto, deverá demonstrar a mudança de sua situação econômico-financeira que tenham resultado na incapacidade de pagamento do aluguel e demais encargos sem prejuízo da subsistência familiar.
A proibição será aplicada somente a contratos cujo valor mensal de aluguel seja de até R$ 600 para imóveis residenciais e de até R$ 1,2 mil para imóveis não residenciais.
Se a tentativa de acordo entre locador e locatário não tiver sucesso em relação a desconto, suspensão ou adiamento do pagamento de aluguel durante a pandemia, o locatário poderá desistir do contrato. E sem multas ou aviso prévio de desocupação também até 31 de dezembro de 2021.
Com informações da Agência Câmara de Notícias
GLP | Acompanhamento da CCT 2020/2021
Em abril, o CTRM – Comando dos Trabalhadores Rodoviários e de Minérios, grupo de entidades sindicais que o SITRAMICO-RJ faz parte, e o Sindigás – Sindicato patronal, reuniram-se para o encontro semestral de acompanhamento da Convenção Coletiva de Trabalho 2020/2021 (CCT 2020/2021). Prevista no instrumento coletivo, esta reunião ocorre todos os anos e é um importante termômetro para as negociações salariais.
Para conduzir as discussões, os Sindicatos dos trabalhadores encaminharam uma pauta para as empresas que destacava questões como:
• Piso Salarial: Necessidade de ajuste no Piso B;
• Plano de Saúde Vitalício para os Aposentados;
• Cesta-básica: isenção da participação dos trabalhadores na cesta básica extra. Após a cuidadosa apresentação e argumentação dos Sindicatos, as empresas solicitaram que esses assuntos fossem discutidos durante a campanha salarial.
Atentos às mudanças causadas pela pandemia na rotina dos trabalhadores, os Sindicatos apresentaram outros questionamentos voltados ao teletrabalho, convênio farmácia, rescisão de contrato.
Denúncias dos trabalhadores
Além destes temas, os sindicatos denunciaram problemas na aplicação da CCT firmada no ano passado. Entre eles estava a não aplicação devida do salário substituição e a queda na qualidade da refeição interna das unidades com refeitório. Os sindicatos cobraram também a melhoria da redação da cláusula referente as horas-extras com a inclusão da obrigatoriedade do fornecimento de lanche.
Nas últimas semanas, o SITRAMICO-RJ tem realizado reuniões com as empresas para apurar e cobrar soluções sobre situações pontuais a partir de denuncias recebidas de trabalhadores. Além disso, o Sindicato tem buscado formas de construir um Acordo Coletivo com o objetivo de baratear o custo do plano de saúde dos aposentados.
GLP | Empresas aproveitam brecha legal para dividir luta dos trabalhadores
Apesar da queda nas vendas de diferentes ramos durante a pandemia, as distribuidoras conseguiriam aumentar as vendas desde o início da pandemia de Covid-19. De acordo com informações do Jornal O Globo, se somados, GLP, Nafta e querosene de aviação, tiveram aumento de 2,3% nos primeiros três meses deste ano se comparados com o primeiro trimestre de 2020.
Mesmo assim, nas últimas semanas, o SITRAMICO-RJ tem recebido denúncias de trabalhadores sobre a implementação das medidas provisórias 1045/21 e 1046/2021, pelas Distribuidoras de GLP. De forma resumida, as medidas permitem a adesão individual a medidas relacionadas a redução de salários proporcional a redução de jornada (que pela MP podem ser de 25%, 50% e até 70%) e suspensão dos contratos de trabalho.
Vale destacar que as empresas não se reuniram com o Sindicato para abordar a implementação das Medidas Provisórias. A informação foi obtida por meio de diversas denúncias de trabalhadores.
Ambas as MPs foram idealizadas para a proteção de empresas em risco de falência ou prejuízo. Acontece que muitas companhias têm aproveitado a brecha legal para retirar os sindicatos das discussões e impor perdas aos trabalhadores.
Aumento de juros é remédio amargo que debilita sinais vitais da economia
Com diagnóstico equivocado, BC escala a taxa Selic em meio à maior crise dos últimos tempos. Medida vai na contramão do tratamento econômico prescrito ao redor do mundo
Roberto Parizotti

Com ritmo da vacinação aquém do necessário, atividades econômicas ainda vão sofrer com o abre e fecha
Fonte: Rede Brasil Atual (São Paulo) – A vacinação em massa da população brasileira caminha a passos de tartaruga. Em função disso, o abre-fecha das atividades, em diversas regiões do país, deve ser uma constante ao longo dos próximos meses. As incertezas econômicas, portanto, acompanham a trajetória de evolução da pandemia. Seus efeitos poderiam ser mitigados, por exemplo, com a ampliação dos recursos destinados ao auxílio emergencial. Em vez disso, a autoridade monetária vem promovendo uma escalada da taxa básica de juros, a Selic, na tentativa de conter o aumento da inflação e a depreciação do real na economia.
Os níveis recordes de desemprego no país são o principal sintoma dessa doença, que corre o risco de evoluir para um caso grave de depressão. Diante desse quadro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vem administrando um remédio amargo e pouco eficaz, com efeitos colaterais que devem levar ao agravamento da doença.
Partindo de um diagnóstico equivocado, o BC vem promovendo nos últimos meses o que convencionaram chamar de “normalização” dos juros. O receituário aplicado já resultou em duas elevações de 0,75 ponto percentual seguida. A taxa Selic, que estava fixada em 2% ao ano até março, subiu a 2,75% no final daquele mês. No início de maio, o Copom fixou voltou a elevar a básica, agora a 3,50%. Na ata da última reunião, há uma sinalização de que o tratamento deve continuar, com doses equivalentes, no próximo período. O “mercado” conta com taxa Selic de 5,5% ao final deste ano.
Inflação fora da meta
O pretexto da alta de juros, combater a inflação, acaba sendo uma confissão de que os índices de preços estão ao deus-dará. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, também conhecido como inflação oficial e ponto de referência para a meta, ficou em 0,31%. Abaixo de março (0,93%), mas com alta acumulada de 2,37% no primeiro quadrimestre do ano e de 6,76% nos últimos 12 meses. A meta para 2021 é de 3,75, mas o “mercado” aposta que passará de 5%.
Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de abril, base de reajuste para muitos contratos, inclusive acordos coletivos de traalho. teve alta de 0,38%, abaixo da taxa de março, quando havia registrado 0,86%. O acumula neste ano é de 2,35% e de 7,59% em 12 meses. O problema é que, com tamanho desemprego e queda da renda, não se trata de inflação por aumento de demanda – por isso, tampouco será controlável por meio da Selic.
Efeitos colaterais e contraindicação
De acordo com economistas, o receituário aplicado no Brasil vai na contramão das ações aplicadas ao redor do mundo para conter os impactos econômicos da pandemia. Além dos trilionários pacotes de estímulo aplicados pelos governos dos Estados Unidos e dos países da União Europeia, por exemplo, as autoridades monetárias também vêm adotando estímulos monetários. As taxas de juros nessas regiões estão próximas de zero.
Além disso, os especialistas afirmam que a “normalização” dos juros não vai atender os objetivos pretendidos. A principal questão é que o aumento da inflação se deve a choques externos, como a alta do preço das commodities. Produtos agrícolas e o minério de ferro, por exemplo, voltaram a subir no mercado internacional, na medida em que parte do globo começa a reabrir, após ter tido sucesso no combate à pandemia. Outra parte da aceleração da inflação por aqui é o reajuste de preços administrados, como dos combustíveis nas refinarias.
“O diagnóstico está equivocado”, afirma a economista-chefe do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), Juliane Furno. Ela frisa que a alta da inflação não tem ligação com aumento da demanda no mercado interno, pelo contrário. “O remédio, na verdade, vai fazer mais mal ainda a saúde do paciente. Nenhuma economia no mundo está elevando a sua taxa básica de juros. Justamente porque o mundo todo está muito mais endividado. Já que os governos tiveram que aumentar o endividamento público para lidar com os efeitos da pandemia”.
Além disso, a elevação dos juros aumenta o custo do endividamento, tanto para o Estado, como para as empresas. E também para as famílias. “A economia brasileira hoje está praticamente em depressão. Ou seja, aumentar a taxa de juros inibe o consumo e também inibe o investimento”, disse a economista.
Custos e previsões
O diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, afirma que apenas a última elevação de 0,75 ponto percentual deve causar um prejuízo estimado de R$ 24 bilhões aos cofres públicos. Isso porque, com a Selic em alta, aumenta o prêmio pago aos detentores dos títulos da dívida pública. Se as novas elevações se confirmarem nas próximas reuniões do Copom, ele estima que o custo com a rolagem da dívida pode alcançar a casa dos R$ 100 bilhões.
“Ou seja, muito mais do que o dobro do previsto para gastar com auxílio emergencial”, comparou Fausto. Com valores reduzidos, as quatro parcelas do benefício terão gasto previsto de apenas R$ 44 bilhões. “De alguma forma, o que estamos assistindo é um modelo econômico que continua avançando para transferir renda dos mais pobres aos mais endinheirados. Principalmente aí para o mercado financeiro”.
Ainda em março, antes da escalada da Selic, o economista André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), alertava para os riscos de agravamento da crise econômica. Segundo ele, as condições objetivas não mudaram. A única alteração foi uma leve apreciação do real frente ao dólar.
“Do lado negativo, a elevação da taxa de juros implica em mais custos do serviço de juros da dívida pública. E menor incentivo monetário para a retomada da atividade econômica, ainda profundamente anêmica, com elevado desemprego e famílias e empresas altamente endividadas”, declarou Roncaglia. Segundo ele, a intenção do BC é equiparar a taxa nominal de com as estimativas de inflação. “Assim, o BC mira uma taxa de juros real nula até o final do ano. O que requer uma taxa Selic de 5% a 5,5% até dezembro de 2021, em face de uma inflação esperada de 5,5% até o final do ano.”
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Eva Wilma: Luta pelos direitos humanos marcou vida e carreira da grande atriz
Personalidades destacam o compromisso da artista com a defesa da democracia e dos direitos humanos

Uma das maiores atrizes do país, Eva Wilma teve uma carreira destacada por grandes personagens0409
Fonte: Rede Brasil Atual (São Paulo) – A vida e a carreira da atriz Eva Wilma se confundem com a luta pela democracia e contra a censura no Brasil. Uma das maiores atrizes brasileiras, morta aos 87 anos devido a um câncer de ovário neste sábado (15), Eva deixou um legado que vai além do talento em sua trajetória: a defesa dos direitos humanos.
“Eva Wilma! Sempre na linha de frente pela democracia e contra a censura. Em 1979, ela estava na linha de frente, com outros artistas (e, Clarice), em passeata pela anistia no Centro de São Paulo”, lembrou o epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Lotufo, em sua conta no Twitter.
“Da esquerda para direita estão Clarice Herzog, um dos filhos de Guarnieri (salvo engano) e Eva Wilma. Depois, reconheço (o ator Carlos Augusto) Strazzer e Denise Del Vecchio. Atrás, estão Genoíno e Ditinho Cintra. Esqueci do Renato Consorte que estava em todas atividades do Comitê Brasileiro da Anistia. O legal é todos eles eram ‘da massa’, não tinham estrelismo e chiliques”, acrescentou Lotuffo, sobre a foto a seguir.

Eva generosa
“Eva Wilma era generosa, disciplinada, sublime. Ainda muito nova, eu tive a honra de assistir, aprender e dividir a cena com ela e sou muito grata por isso. Nossa cultura perde uma mãe e nossa democracia perde uma grande aliada. Meus sentimentos aos familiares”, comentou a atriz Leandra Leal.
“Lamentamos a partida da atriz Eva Wilma, fundamental na dramaturgia brasileira. Lembramos sua participação em 1968, em que ela levantou-se contra a ditadura. Tônia Carrero, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Bengell e Cacilda Becker. A cultura sempre está ao lado da democracia!”, lembrou o deputado Ivan Valente (Psol-SP).

“Perdemos hoje Eva Wilma, grande atriz brasileira. Viverá entre nós a lembrança desta mulher de coragem, com uma admirável história de luta”, escreveu a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, do Paraná.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também usou sua conta no Twitter para reverenciar a artista.“Eva Wilma deixou o legado da arte e da política no meio artístico. Ela não fez história só no teatro e na TV, mas também teve um papel ativo contra a ditadura, sendo uma das atrizes que, em 1968, esteve à frente da Passeata dos Cem Mil. Obrigado por tudo, Eva! Descanse em paz.”
Eva Wilma começou como bailarina
Eva Wilma Riefle Buckup nasceu em 14 de dezembro de 1933, em São Paulo. Iniciou a carreira artística aos 19 anos, no Ballet do 4º Centenário de São Paulo, mas acabou trocando a dança pelo teatro e a TV.
Ela estrelou dezenas de novelas, como “Meu Pé de Laranja Lima” (1971) e a primeira versão de “Mulheres de Areia” (1973), na TV Tupi, na qual interpretava as gêmeas Ruth e Raquel. Deu vida à vilã Altiva, de “A Indomada”, que lhe rendeu vários prêmios, entre outras dezenas de trabalhos.
No teatro, participou de espetáculos como “Antígona”, em 1976, “Esperando Godot”, em 1977, “Pato com Laranja”, em 1980, e “Querida Mamãe”, de 1994 a 1996. Recebeu diversos prêmios.
Luta pela anistia
No começo da década de 1970, montou com seu primeiro marido, John Herbert, a peça Os Rapazes da Banda, de Mart Crowley, que retratava a vida comum de amigos homossexuais masculinos. Anos depois, militou na luta pela anistia ao lado de seu segundo marido, Carlos Zara, falecido irmão do deputado federal Carlos Zaratini (PT-SP). Sua atuação em defesa dos direitos, inclusive sexuais, permearam também todo o seu discurso.
“Com a partida de Eva Wilma, a querida Vivinha, a cena brasileira se empobrece, perde talento, memória, coragem, cultura e ativismo contra a opressão, a ditadura e a injustiça social”, escreveu a jornalista e ativista Hildegard Angel.
“A cultura em luto. Não existem ‘bravos suficientes para Eva Wilma. Como atriz e como cidadã deixa sua marca e um enorme legado. Nossa solidariedade à família e aos amigos”, anotou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
Redação: Cida de Oliveira
Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morre aos 41 anos após luta contra câncer
Neto de Mário Covas tratava câncer desde outubro de 2019 e estava afastado da administração da cidade desde o dia 3
Rovena Rosa/ABr

São Paulo – Morreu na manhã deste domingo (16) o prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas (PSDB). Aos 41 anos, o neto do ex-governador Mário Covas foi vitimado pelo câncer que tratava desde outubro de 2019. Iniciado no aparelho digestivo, a doença se espalhou para o fígado e os ossos. O agravamento levou o prefeito a se licenciar do cargo em 3 de maio. Bruno Covas morre dois dias depois de os médicos do Hospital Sírio-Libanês darem seu prognóstico como irreversível. O prefeito deixa o filho Tomás, de 15 anos.
São Paulo passa a ser definitivamente administrada pelo vice-prefeito Ricardo Nunes (MDB). O ex-vereador, à época da eleições, se recusou a participar de debates. Importante interlocutor da Igreja Católica na Câmara Municipal, Nunes foi um dos responsáveis pela lei que autorizou anistiar e regularizar templos religiosos em desobediência à lei de zoneamento, em 2016. Também foi acusado de violência doméstica contra a mulher – ambos negam – e investigado pelo envolvimento em empresas que ganharam com superfaturamento no aluguel de creches conveniadas com a prefeitura de São Paulo.
As informações são da Rede Brasil Atual
Turismo da vacina: opção para quem pode viajar ao Exterior e se imunizar
Surgem empresas especializadas em pacotes de turismo para países que vacinam sem burocracia. Quem pode pagar não espera para ser imunizado
Reprodução/Youtube

Aplicação de vacina contra covid-19 em uma unidade de saúde dos Estados Unidos07
São Paulo – A falta de vacina e insumos e o atraso da vacinação no Brasil não são problemas para quem pode pagar uma viagem ao Exterior, onde seja possível se vacinar sem burocracia. É o caso dos Estados Unidos. Embora a entrada dos brasileiros tenha sido dificultada desde maio do ano passado, aqueles que têm residência, cidadania ou familiares morando no país têm mais facilidade para entrar.
Na Flórida, cerca de 52 mil pessoas de fora do estado foram vacinadas até o final de abril. Em Nova Iorque, as autoridades locais estimam que 25% das vacinas foram aplicadas em pessoas que residem em outros estados. É por isso que o Texas e a Califórnia passaram a exigir comprovantes de residência para a aplicação da vacina.
Os brasileiros, porém, não são os únicos que estão viajando para tomar vacina no Exterior contra a covid-19. Como na Alemanha a imunização tem avançado lentamente em comparação com outros países europeus, já há alemães comprando e vendendo esse tipo de pacote. Muitos negócios nesse setor começam a surgir em vários países, unindo turismo propriamente dito com a possibilidade de tomar a vacina em Israel, Sérvia, Rússia e até Emirados Árabes.
Pacotes para vacinação
Para empresários desse ramo desregulado que começa a se consolidar, o negócio apenas preenche um vácuo criado por governos incapazes de garantir a imunização. Há estimativas de que até agora mais de vinte mil pessoas já fizeram reserva desses pacotes.
Tema no mínimo polêmico, traz ainda o componente da imoralidade. Não há vacinas para todos. E como os países ricos compram muito mais doses, os países pobres não conseguem comprar. A questão é tratada na revista digital O Planeta Azul.
STF derruba patentes farmacêuticas com prazos prorrogados
Decisão atinge 74 medicamentos, com fórmulas para tratamento de neoplasias, HIV, diabetes e hepatites virais
Marcello Casal JrAgência Brasil

Número total de patentes da área farmacêutica que tiveram o prazo de vigência esticado chega a 3.435 no final deste ano016
São Paulo – O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por oito votos a três, nesta quarta-feira (12), derrubar patentes farmacêuticas e de materiais da área de saúde que já foram prorrogadas e estão em vigor há mais de 20 anos. A medida atinge 74 medicamentos, com fórmulas para tratamento de neoplasias, HIV, diabetes e hepatites virais.
De acordo com os magistrados, serão mantidas as extensões de prazo concedidas na lei, mantendo a validade das patentes já deferidas e ainda vigentes. Porém, o mesmo critério não se aplica aos prazos extras concedidos em patentes de medicamentos e equipamentos de saúde.
O julgamento do Supremo envolve uma ação da Procuradoria-Geral da República (PGR) que contesta a Lei de Propriedade Industrial, em vigor desde 1996. Na última quinta-feira (6), por 9 a 2, o STF entendeu como inconstitucional a regra prevista na Lei de Propriedade Industrial, que permite estender os prazos de patentes em caso de demora na análise dos pedidos pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Na prática, a decisão da Corte leva à redução do prazo de patentes e abala a indústria como um todo, especialmente mercados gigantes, como o setor farmacêutico, químico e de biotecnologia.
Patentes farmacêuticas
Por conta dos efeitos da pandemia do novo coronavírus, o ministro do STF Dias Toffoli propôs soluções diferenciadas para as patentes da área de saúde e as de todos os outros setores. No caso dos produtos farmacêuticos e materiais de saúde, a decisão da Corte vai retroagir, ou seja, vai atingir as patentes prolongadas que estão em vigor há mais de 20 anos – que devem cair.
Nos demais setores, as patentes já esticadas não serão atingidas, ou seja, continuam preservadas. O número total de patentes da área farmacêutica que tiveram o prazo de vigência esticado chega a 3.435 no final deste ano, segundo ele. “Deixo de modular os efeitos da decisão tendo em vista a situação excepcional caracterizada pela emergência de saúde pública decorrente da covid-19, a qual elevou dramaticamente a demanda por medicamentos e por equipamentos de saúde de forma global, com a elevação dos ônus financeiros para a administração pública e para o cidadão na aquisição desses itens”, observou o ministro.
Segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), entre 2008 e 2014, a quase totalidade dos produtos farmacêuticos teve as patentes estendidas por um prazo superior a 20 anos. De acordo com o TCU, a exploração protegida pela patente de produtos farmacêuticos dura, em média, 23 anos, sendo comum a concessão de patentes que ao final terão durado por 29 anos ou até mais.
Agora, com a decisão do STF, não se pode mais prorrogar o prazo das patentes para nenhum produto em nenhuma hipótese. Ou seja: o prazo de vigência das patentes deve ficar limitado ao período de 20 anos a partir do depósito do pedido feito ao Inpi.